Renato era o nome dele. Morreu em 9 de junho de 2021, aos 54 anos, em virtude de uma cirrose hepática. Renato foi colega de trabalho do meu pai. Eu não o via há muitos anos, mas me lembro de ser um cara bem legal e divertido.
Um dia depois da morte do Renato, ainda sensibilizado, meu pai me propôs um acordo. “A morte dele mexeu muito comigo e a gente podia se cuidar melhor”, disse o papis – apelido carinhoso que usamos lá em casa.
Esse “se cuidar melhor” se refere a eu parar de fumar e o papis a deixar a bebida de lado, uma companheira de longos anos. Isso aconteceu na mesma semana que visitei um novo cardiologista e o médico fez questão de contar detalhadamente a morte dolorosa que posso ter se continuar tratando meu pulmão como filtro de toxinas.
Papis e eu conversamos sobre o possível acordo e, claro, dei todas as desculpas possíveis para não firmamos o compromisso agora. “Estou passando por momentos difíceis”, comentei. Enfático, papis retrucou: “Não existem momentos fáceis, a vida será difícil sempre”. E ele tem toda a razão.
Já na minha casa, ainda pensando sobre a conversa, me toquei do amor, que estava até então, disfarçado de acordo entre pai e filha. Não era apenas um compromisso para ter uma vida mais saudável e, se tudo der certo, mais longa. Mas de uma preocupação real em manter outro ser humano vivo, nem que isso custasse as próprias vontades.
Ou seja, por amor a mim, ou pelo medo de me perder, papis deixaria um hábito duradouro – vamos concordar que não é algo fácil de se dispensar – para me ver livre do fator de risco que escolhi para minha vida.
Eu acho que isso é amor, mesmo sem dizer com todas as letras. Eu também te amo, papis.
